Incêndio propagado pelas Fachadas
- Pedro Guimarães Muniz
- 17 de out. de 2020
- 4 min de leitura
O intuito do "post" é apresentar os riscos, eventualmente, ocultos dos sistemas de revestimento não aderido, com relação à segurança contra incêndio, tendo em vista sua ampla utilização na região sul brasileira, sobretudo em edifícios altos.
O que é um REVESTIMENTO NÃO ADERIDO (RNA) ?
Paralelo ao crescimento e ao avanço tecnológico na implantação dos edifícios altos nos grandes centros urbanos houve também a busca pelas construções sustentáveis. Assim, os mais diversos tipos de soluções tecnológicas para o exterior das edificações são introduzidos pelo mercado. Sobretudo, na maioria das vezes, a velocidade com que são introduzidas pelo mercado essas inovações, as mesmas não correspondem ao poder de resposta da classe cientifica e fiscalizadora sobre seu real desempenho em uso.
O projeto de fachada que contempla o revestimento não aderido, usualmente conhecido como "fachada ventilada", pode apresentar diversas soluções técnicas, estéticas, com diferentes tipos de revestimentos, espessura da cavidade de ar, tipos de montantes e “inserts” bem como a aplicação ou não de uma camada prévia de isolação térmica. Tais características refletem os atendimentos dos critérios estabelecidos na fase de concepção do projeto, seja ele para uma construção originária ou simplesmente uma reforma, sendo essa uma tecnologia também de reabilitação ou reforço conforme apresentado abaixo.
Representação e Fotos de implantação do "RNA" - Fonte: Adaptador pelo Autor
Uma das principais variáveis dentro do sistema de revestimento não aderido é a diversidade disponível comercialmente dos tipos de revestimentos, conforme tabela em seguida:

Tipos de RNA - Fonte: Autor
Compreende-se, na maioria das vezes, os materiais cerâmicos, rochosos, concretos pré-moldados e metais maciços como incombustíveis. Em contrapartida a madeira, poliméricos e metais compostos são combustíveis, podendo agravar diretamente na segurança contra incêndio em uma edificação ao serem utilizados como parte da solução adotada para os sistemas de revestimentos não aderidos.
Há dados da primeira utilização do Alumínio Compósito - ACM como sistema de revestimento não aderido em 1970. O material é composto por duas chapas de alumínio e seu núcleo pode variar em diversos termoplásticos: aditivados com minerais não combustíveis e/ou retardadores de fogo.
São painéis pré-fabricados e possuem uma espessura que vai de 4-6mm e núcleo com 2-4mm. Alguns painéis podem ser encontrados com até 10mm de espessura comercialmente. Há relatos de que quando originalmente apresentado pela indústria, o material possuía um núcleo feito 100% em Polietileno (PE), ou seja, totalmente combustível.

Fachada em "ACM" Combustível no "The Addres Hotel", 2015 - Fonte Adaptado "The New York Times"
Na imagem acima é demonstrada a grandiosidade de um incêndio que atingiu a fachada incorporada de material combustível proveniente do sistema de revestimento nãoa aderido -RNA, no Edifício “The Addres” já nos Emirados Árabes Unidos - EAU, 2015. Através de levantamento histórico feito a partir de 2008 com base em dados de jornais locais e especificamente o trabalho publicado por NGUYEN em 2016 pudemos concluir que desde 2008, uma edificação por ano entra em ignição por conta da combustibilidade incorporada no sistema de revestimento não aderido na fachada.

Fonte Adaptado para o Portugûes do "Claddingfire.com"
A lista de Países que já foram atingidos tragicamente com esse tipo de incêndio é grande: Inglaterra, França, Emirados Árabes, Azerbaijão, Austrália, China e Estados Unidos da América. No Brasil ainda não foi registrado ocorrência dessa magnitude, e isso não significa que não detemos desse tipo de risco, pois nas grandes capitais já é possível verificar a utilização dessa tecnologia em edificios altos, bem como a falta de normatização brasileira específica que garanta o correto desempenho ao fogo nesse tipo de sistema.

Edifício em Roubaix, França, 2012 - Fonte: Adaptado Pelo Autor de "Inside Housing"
A imagem acima apresenta um edifício que utilizou da técnica como "retrofit" e durante o uso da edificação houve a ignição e propagação externa do fogo até o topo do edifício de 18 andares de maneira muito rápida, causando assim uma reação em cadeia de fogo e fumaça para o interior da Edificação, resultando na morte de 1 pessoa. Sem dúvidas o incidente mais trágico envolvendo a propagação de chamas pelo exterior devido a combustibilidade das fachadas foi em Londres (2017), na Torre Greenfel, resultando em 79 mortos e 70 feridos.

Fonte: Adaptado Pelo Autor de "Daily Mail"
Nesse trágico incêndio, o fogo iniciou no 4° andar devido uma pane em um eletrodoméstico e se propagou rapidamente através do revestimento não aderido em chapa metálica sólida ACM e núcleo em polietileno - PE.
As legislações brasileiras, até a data da presente publicação, permitem as instalações de fachadas tanto com o comportamento incombustível (A-I) quanto o combustível (B-I e B-II), ressaltando ainda que a normatização específica para o problema em questão ainda não existe.

Fonte: Retirado em 10/2020 da instrução técnica do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo
Para um bom desempenho ao fogo de uma fachada não aderida, sugere-se compreender e comparar algumas normativas que tratam desempenho ao fogo desse tipo de sistema de fachada no âmbito internacional. Sobretudo, em 2017, após o acidente em Londres na “Torre Greenfel”, houve uma minuciosa investigação por parte da corte britânica, acarretando na consolidação de uma norma específica British Standard – BS 8414-1:2015+A1:2017 – “Fire performance of external cladding systems” Parte I e II, que é atualmente a norma mais recomendada para o atendimento de critérios de desempenho em relação ao fogo em revestimento de fachadas.
Antes, durante e depois do incêndio propagado pela fachada no - Beijing Television Cultural Center fire, 2009 - Fonte: Adaptado wiki.
No incêndio acontecido em 09 de fevereiro em Pequim a fonte inicial se deu pelo alojamento de um dos fogos de artifício no sistema de fachada da edificação, na época os fogos eram em virtude da comemoração do ano novo Chinês que acontece em fevereiro.
Com base nos dados buscados, estima-se que no mundo, pelo menos grande 1 incêndio envolve a combustibilidade de fachada nas edificações e a cada ciclo de 5 anos a partir de 2008 pelo menos 50 pessoas morrem de maneira abrupta, tendo em vista que a maioria daqueles que moram ou frequentam um edificação não façam idéia de que as fachadas que lhe "protegem" na verdade possuem uma carga de incêndio capaz de tomar a edificação em instantes.

Fonte: Do autor com base nos dados de jornais locais e NYGUNEN.
Assim, espera-se com essa publicação esplanar o estado da arte no mundo em relação ao atual cenário da edificações já implantadas e futuras. Vale enfatizar que atual legislação brasileira não demonstra nenhum tipo de preocupação em relação as ocorrências do fogo pela combustibilidade das fachadas, inclusive permitindo a sua instalação. Portanto sendo o tema de enorme relevância para a segurança ao fogo no ambiente construído brasileiro.
Por: Pedro Guimarães Muniz
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