Condição de um elemento de proteção em Concreto Armado em Regiões Litorâneas
- Pedro Guimarães Muniz
- 16 de set. de 2020
- 4 min de leitura
O estudo de caso foi realizado na cidade de São Luís , estado do Maranhão, Brasil.
Nos últimos anos no Brasil, foi possível aprender mediante alguns acidentes envolvendo as estruturas de concreto armado, como os mesmos poderiam ter sido evitados. Esses foram os casos do edifício Andrea em Fortaleza (2019) e o da ciclovia Tim Maia no Rio de Janeiro (2016). Outro fato interessante é que ambas estruturas estavam inseridas em um cenário de agressividade físico-química presente no meio marítimo.
As imagens representando os acidentes no Rio de Janeiro e em Fortaleza, respectivamente - Fonte: Globo e Terra.
Nessa matéria o estudo de caso faz parte de um elemento construtivo dentro do pacote de obras da Avenida Litorânea que foi inaugurada em no ano de 1990, SILVA et. al. (2014). Foram feitas consultas aos órgãos públicos responsáveis que não se manifestaram a respeito da existência de projeto original. Com isso, fez-se o trabalho de reengenharia do módulo padrão da estrutura.
Das manifestações patológicas, as de maior destaque foram as manchas, fissuração, desplacamento do concreto, armadura seccionada e ausência de armadura. Diante do dados coletados, constatou-se a ausência quase que total do elemento em um trecho em condição de maré alta, restando apenas 20cm do pilar de sustentação em concreto armado que está em contato direto com a superfície.
Imagens representando as patologias e deficiências encontradas - Fonte: Autor.
A estrutura de proteção em concreto armado com pintura de baixa superfície na cor branca é um elemento fundamental para este espaço público que é ponto de referência para turistas e frequentadores na busca de oportunidade de lazer e alimentação.
A estrutura possui características usuais de 2 pilaretes de concreto armado com 1m de altura e secção típica de 20cm x 20cm, que estão associados à duas vigas do mesmo material, sendo uma superior e outra intermediaria com base de 6cm e altura de 25cm.

Retroanálise feita a partir do levantamento "in loco" - Fonte: Autor.
Para que toda e qualquer estrutura em concreto armado possa desenvolver seu esperado desempenho e principalmente sua durabilidade, torna-se primordial uma boa concepção e execução, correspondendo estritamente ao detalhamento do projetista responsável, que não foi este o caso. As premissas a serem cumpridas são as trazidas pela NBR 6118-2014, onde se explana conceitos fundamentais que parametrizam várias premissas de projeto, tais como taxa de cobrimento do concreto e quantidade de cimento por m³ da mistura.
Classificação da Agressividade ambiental, Risco de Deterioração e Taxas de Cobrimento Mínimas- Fonte: NBR 6118-2014
Em 5 medições feitas em locais distintos dentro da continuidade da estrutura com cerca de 200 metros, não houve nenhuma taxa de cobrimento que atendesse satisfatoriamente à norma NBR 6118-2014.

Taxas de cobrimentos levantadas "in loco"- Fonte: Autor.
É relevante ainda dizer que, na estrutura inspecionada há cobrimento evidenciado em valores de 2cm, satisfazendo apenas ambientes rurais, o que torna esta estrutura não só incompatível com o ambiente marinho, mas incompatibilizando-a para qualquer região urbana da capital maranhense.
Durante o dia, pode-se constatar a normal utilização da estrutura em situação de deterioração e de projeto constatado incompatível, pondo em risco a vida das pessoas que não possuem discernimento suficiente para identificar os riscos ocultos nesta estrutura.

Uso corrente - Fonte: Autor.
Mediante a realização de inspeções simples da estrutura e comparativos documentais da engenharia pública, ou seja, a engenharia que é de responsabilidade do estado, pudemos observar que não houve a utilização de um projeto que obedecesse minimamente às preconizações estabelecidas pela NBR 6118-2014.
Todos os elementos que constituem essa estrutura possuem implicações estruturais significativas e nível de deterioração que indique um comprometimento quanto à sua estabilidade vide o exemplo do módulo da estrutura que já se encontra ausente. Observa-se que seu poder de resposta quanto sua normal utilização já não atende sua concepção inicial, sendo necessário um novo estudo de engenharia.
As pessoas utilizam a estrutura comprometida, trazendo riscos as suas vidas caso a estrutura venha a não suportar os esforços exercidos pelos seus utilizadores, agravado pela falta de sinalização de condição insegura.
Com alguns dados obtidos através do membro do TCU, o Professor André Pachioni Baeta, podemos reafirmar com maior convicção nas duas figuras em seguida uma necessidade de mudança de paradigma para os gestores de obras públicas de engenharia no brasil.
Principais irregularidades das obras públicas, adaptado TCU (2017) - Fonte: TCU.
Com a interpretação gráfica do TCU, pode-se notar que se trata de projeto inexistente, deficiente ou desatualizado uma das maiores ocorrências dentro da prestação de serviço de engenharia pública.
A execução obras de engenharia sem projeto, com projeto deficiente ou desatualizado, ainda existe o fator de qualidade, que corresponde a 33%, ou seja, a cada 10 obras, 3 possuem projeto ineficiente ou nem possuem projetos, no que cabe ao emprego de materiais com qualidade inferior ou técnicas construtivas incompatíveis.
"E no que tudo isso acarreta?"
Toda essa realidade agrava negativamente no conceito e na alta expectativa da sociedade sobre SUSTENTABILIDADE da construção:
Economicamente a depreciação acelerada do bem construído acarreta em novos gastos com manutenção corretiva ou possível reposição gerando custos não previstos.
Socialmente a necessária interdição do equipamento/espaço público diminui a qualidade de vida das pessoas pondo riscos à integridade física durante seu uso indevido. Existe também o custo monetário social, por se tratar de uma estrutura com necessidade de atuação não programada, ou seja, gastos imprevistos, este provisionamento de recursos fatalmente irá comprometer outros departamentos da esfera pública, tais como: saúde, segurança e educação.
Ambientalmente a cada intervenção, seja corretiva ou reposição, tem-se uma nova utilização de recursos finitos, naturais, das matérias primas esgotáveis (água, areia, brita, cimento, ferro, fôrmas de madeira(...).
Por: Pedro Guimarães Muniz
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